terça-feira, 3 de dezembro de 2013

Choro de mulher

Encontrei este texto no facebook. A mulherada toda curtindo, se sentindo homenageada e eu incomodada com a situação.
Pra ninguém ter que ler o mesmo texto duas vezes, texto original em itálico, meus comentários, abaixo, em negrito:

Achei lindo e resolvi dividir com vcs!!! Já começa mal. Como eu disse, não curti.

Choro de mulher...

"Um garotinho perguntou à sua mãe:
- Mamãe, por que você está chorando?
E ela respondeu: Porque sou mulher...
Hein? Tá bom, a vida da mulher não é fácil no mundo em que vivemos, mas, por si só, não é motivo pra chorar, né?
- Mas... eu não entendo.
A mãe se inclinou para ele, abraçou-o e disse:
- Meu amor, você jamais irá entender!...
Mais tarde o menininho perguntou ao pai:
- Papai, por que mamãe às vezes chora, sem motivo?
O homem respondeu: - Todas as mulheres sempre choram sem nenhum motivo.... Era tudo o que o pai era capaz de responder.
Eu não conheço nenhuma mulher que chore sem motivo. Choramos de raiva, de tristeza, de alegria, de emoção. Quando os hormônios estão a mil (tipo TPM ou gravidez), esses sentimentos ficam mais forte e, sim, pode ser mais fácil chorarmos, mas tem sempre um motivo. Nem que seja a cebola. Essa conversa de que mulher chora "sem motivo nenhum" 1 - nos coloca como malucas destemperadas; 2 - me parece uma forma muito sutil (só que não) de menosprezar nossos sentimentos.
O garotinho cresceu e se tornou um homem.
E, de vez em quando, fazia a mesma pergunta:
- Por que será que as mulheres choram, sem ter motivo para isso?
Ponto pra esse garoto que, pelo menos, passou a vida tentando entender o que afligia as mulheres à sua volta.
Certo dia esse homem se ajoelhou e perguntou a Deus: (sim, Ele mesmo, criador do céu, da Terra e, segundo alguns, do machismo)
-Senhor, diga-me... Por que as mulheres choram com tanta facilidade?
E Deus lhe disse: - Quando eu criei a mulher, tinha de fazer algo muito especial.
Fiz seus ombros suficientemente fortes, capazes de suportar o peso do mundo inteiro... Porém suficientemente suaves para confortá-lo!
Pára tudo! Vocês querem que eu acredite que Deus criou a mulher já pensando em jogar todo o peso do mundo nas nossas costas? O Deus de quem? Meu que não foi! O meu Deus fez a mulher para ser companheira do homem (e depois ele mesmo permitiu algumas variações a esse arranjo, mas isso é outro capítulo da História). Companheira, não burra de carga. É pra dividir o peso do mundo, não carregá-lo sozinha nas costas.
- Dei a ela uma imensa força interior, para que pudesse suportar as dores da maternidade e também o desprezo que muitas vezes provém de seus próprios filhos! blá bla blá...
- Dei-lhe a fortaleza que lhe permite continuar sempre a cuidar da sua família, sem se queixar, apesar das enfermidades e do cansaço, até mesmo quando outros entregam os pontos! continua o blá blá blá dizendo que a mulher é a única responsável pelo bem estar da família, que ela é a bucha da vez e que cabe a ela carregar tudo - inclusive o homem - nas costas. E sem reclamar
- Dei-lhe sensibilidade para amar seus filhos, em qualquer circunstância, mesmo quando esses filhos a tenham magoado muito ... e não deu aos homens? Eu conheço - felizmente - pais excelentes e super sensíveis.
Essa sensibilidade lhe permite afugentar qualquer tristeza, choro ou sofrimento da criança, e compartilhar as ansiedades, dúvidas e medos da adolescência! e Deus continua dizendo que cabe à mulher carregar tudo sozinha, inclusive cuidar dos filhos sem o apoio moral do pai.
Porém, para que possa suportar tudo isso, Meu filho... Eu lhe dei as lágrimas, e são exclusivamente suas (porque homem que é homem não chora...), para usá-las quando precisar (ou à toa, sem motivo algum, como te disseram). Ao derramá-las, a mulher verte em cada lágrima um pouquinho de amor. Essas gotas de amor desvanecem no ar e salvam a humanidade! Brega. pra início de conversa. Mas, mais do que isso, volta a ignorar os sentimentos que levam a mulher a chorar. Quando a gente chora de dor, verte em cada lágrima um pouco de dor. Quando chora de raiva, verte raiva na lágrima. O que sai, junto com a lágrima, é o sentimento que deu origem a ela. E não foi, necessariamente o amor, que fez a pobre chorar.
O homem respondeu com um profundo suspiro... - Agora eu compreendo o sentimento de minha mãe, de minha irmã, de minha esposa... (e todas as demais loucas choronas que conheci em vida)
- Obrigado, Meu Deus, por teres criado a mulher." ... pra que eu fosse poupado de carregar o peso do mundo nas costas. Quer dizer, o cara morreu, foi pro céu, e continuou sem saber a verdade sobre o assunto! Sacanagem!
"Autor desconhecido" Que bom. Vai que é alguém que eu conheço?

domingo, 9 de junho de 2013

quando a linguística tira o foco da questão.

Era pra ser simples: mulheres solteiras são senhoritas, mulheres casadas são senhoras. Não importa que idade elas tenham. Eu já escrevi aqui sobre a adorável vitória das francesas em retirar o pronome Mademoiselle de circulação, pelo menos nos meios oficiais. As francesas já não são obrigadas a declarar seu estado civil "indiretamente", em situações em que ninguém quer saber se um homem é casado ou não.
Mas isso porque, aparentemente, as francesas sabiam que essa era a diferença. Por aqui, parece que ainda não entendemos isso.
Por aqui, as pessoas relacionam os pronomes à idade ou, vejam vocês, à virgindade. O termo senhorita parece designar mocinhas jovens e puras. Uma mulher casada, se chamada de senhorita, agradece ao interlocutor, porque aparentemente, isso significa que ela parece mais jovem do que é. Como se moças jovens não se casassem e como não existissem mulheres mais velhas solteiras.
Jovens senhoritas, por sua vez, sonham em ser chamadas de senhora, porque né? Ainda vivemos num mundo em que "ficar pra titia" é o auge do fracasso na vida de uma mulher. Envelhecer e continuar sendo uma senhorita é o pesadelo de milhares e milhares de mulheres da nossa cultura.
E é um pesadelo porque sempre que nos perguntam "senhora ou senhorita", ainda que com a melhor das intenções com o único intuito de parecer mais respeitoso, nós estamos sendo obrigadas a informar se já arrumamos um homem pra chamar de nosso ou se ainda estamos na pista pra negócio.
As senhoritas terão orgulho em se dizer senhoritas inversamente proporcional à sua idade. As senhoras terão  maior prazer em serem tomadas por senhoritas quanto mais primaveras tenham vivido.
E vai ter sempre um pra dizer que "hoje em dia são raras as senhoritas por aí", como me disse um amigo enquanto discutíamos o assunto, como ser uma senhorita fosse o mesmo que ser "donzela", porque né? senhoritas que se prezem, e que querem merecer esse tratamento respeitoso, devem estar, todas, se guardando para aquele que as fará uma senhora de respeito...

quinta-feira, 11 de abril de 2013

sobre Deus e suas religiões.

Nos últimos dias eu cheguei à seguinte conclusão: foi Deus quem inventou todas as religiões.
Foi esse ser, que pode ou não ter uma forma definida, que pode ser um, três em um, ou vários, ou apenas o fluxo de energia. Ele foi quem imaginou, concebeu e espalhou pelo mundo todas as religiões já conhecidas pela humanidade.
Ora, Deus nos criou a todos, não foi? E sendo Ele próprio o Criador, sabia que havia criado seres diferentes entre si. E havendo criado seres diferentes entre si, tratou de criar também diferentes formas de se chegar até Ele. Ele sabia, afinal, que uma única forma de se relacionar com Ele não seria suficiente, não atenderia a todas as suas criaturas, posto que eram tão diferentes entre si.
E assim, Deus, na sua infinita sabedoria, espalhou pelo mundo diversas formas de se ver o mundo - o explicável e o inexplicável -  e porque ele sabia que esses seres precisariam se descobrir e descobrir o mundo que Ele havia criado nos seus mínimos detalhes para melhor o habitarem, ele também lançou no mundo a opção de não se acreditar em nada que não fosse provado cientificamente. Afinal, Ele sabia que a humanidade poderia ficar acomodada se todos simplesmente acreditassem e ninguém fosse atrás de maiores explicações. Acreditem, meus amigos: os ateus também são "de Deus".
Eu não entendo porque as pessoas perdem tanto tempo discutindo, catequizando, convencendo. Não entendo que não percebam que se Deus permitiu que várias crenças se espalhassem pelo mundo é porque era pra ser assim mesmo e pronto. Para que cada um de nós encontrasse alento naquilo que lhe parecesse mais familiar, que chegasse melhor ao seu coração. Como podem não perceber algo tão óbvio se quase todos nós acreditamos que ele tudo sabe e que nos ama tanto?
Como não acreditar que é Ele quem nos apresenta diversas formas de seguirmos um caminho do bem, para que possamos seguir por aquele que melhor se adapta à nossa realidade. Pois que é isso que uma religião é: um caminho para o bem.
Percebam: pode-se chegar a Deus de barco, voando, pela beira da praia, seguindo uma trilha na floresta, atravessando o jardim ou uma avenida larga. Em qualquer dos caminhos, existe a opção de ser bom e fazer o bem. Judeus, católicos, evangélicos, muçulmanos, budistas, todos pregam o bem (todos os que não distorcem os ensinamentos de sua religião ao seu bel prazer, evidentemente). Todos!
Muitos ateus também pregam o bem. E, se não acreditam agora, mas fazem o bem, decerto também terão seu valor reconhecido, não? Mais do que o outro que bate no peito de orgulho de sua religião, mas é intolerante com os que não compartilham dela.
É nisso que eu acredito

quarta-feira, 20 de março de 2013

orgulho de ser castanho

Meu marido tem lindos olhos verdes. Herdou o tom claro do pai, que tinha lindos olhos azuis.
Ainda assim, me dá um nervoso que as pessoas olhem para nós e dizem: "Tomara que os filhos de vocês puxem os olhos do pai. Imagina que coisa linda, nascer tudo de olhinho claro!"
E por acaso castanho não é uma cor bonita? Por ter olhos claros é condição pra se ser bonito? E por acaso todo mundo que tem olho claro é bonito?
Eu gosto muito de castanho! Acho a cor linda! Até a palavra "castanho", eu acho bonita. Pode ser um ato inconsciente de autodefesa, autoestima, mas eu adoro todos os tons de castanho - do mais escuro, quase preto, aos mais claros, quase mel, passando pelos tons esverdeados, são mais do que os tons de cinza do livro. Acho confortantes, confiáveis, acolhedores. Familiares, talvez. E, mérito seu, o castanho combina com qualquer tom de pele.
Acho que o castanho merece tanta admiração quanto qualquer verde, qualquer azul.
Se meu marido tivesse os olhos castanhos ele seria tão lindo quanto eu acho que ele é com seus olhos verdes. É como uma fotografia: se for boa, fica bonita colorida, em "sépia", em preto e branco.
E tenho certeza de que nossos filhos serão lindos de qualquer jeito, e de qualquer cor!
E embora eu não tenha como escolher, não vai ser nada estranho que puxem o gênio birrento da mãe e venham todos castanhinhos, só pra dizer ao mundo, "viu? Eu sou castanho e sou lindo! Não preciso de olhos claros pra isso!"
Sim... é bem capaz de que eles venham castanhos como a mãe, com os cachinhos do pai e - tomara! - com as bochechas da tia Jeniffer.


segunda-feira, 11 de março de 2013

fraldários para todos

Daí que esses dias fomos a algum lugar, que não me lembro onde, se shopping ou restaurante. E daí que eu fui ao banheiro e lá estava o fraldário. Não no corredor, como acontece em alguns lugares, mas dentro do banheiro feminino, como acontece e muitos lugares.
E como eu sou dessas, não resisti e perguntei ao marido, que também tinha ido ao banheiro, se no masculino também tinha um fraldário. Claro que a pergunta foi retórica. Eu já sabia a resposta. Claro que não tinha nada no banheiro masculino, porque, afinal, trocar fraldas não é coisa de homem, né? Não é coisa de pai, só de mãe. Pai só troca fraldas em casa, onde ninguém vê, e se trocar.
Quer dizer, imagine que é meu aniversário e eu resolvo chamar uns amigos pra almoçar nesse restauante/shopping. E imagine que levamos nosso pequeno e rechonchudo bebê. É meu aniversário, são meus convidados, eu sou a anfitriã da festa. mas se o neném fizer cocô, quem tem que sair da mesa sou eu. Ou uma voluntária solidária.

Vamos supor, agora, que eu esteja trabalhando, como faço sempre nos horários mais impróprios, (aqueles em que as pessoas se reúnem e tal) e que meu marido vá como nosso lindo e fofo bebê ao aniversário de um amigo. (antes que alguém diga que o pai do meu filho é um irresponsável que leva uma inocente criança para a balada, com muito álcool e cigarro, vamos imaginar que é um almoço num lugar e horário super "famílias" tá?) O neném fez cocô de novo. E aí? Ele:
(   )Volta pra casa?
(   )Pede pra uma amiga trocar o bebê?
(   )Nem vai pro tal aniversário (afinal, onde já se viu, um pai passeando por aí sozinho com x próprix filhx)?

Terceiro exemplo: eu estou de folga, e nós resolvemos passear. Daí paramos pra comer. Pra comer metade da quantidade de comida que o maridão come, eu levo, pelo menos, o dobro do tempo. E ele fica logo aborrecido com a demora. Olha aí a criança fazendo cocô de novo. Só eu acho que seria muito melhor se ele fosse trocar a fralda enquanto eu acabo de comer em vez de esperar eu trocar a fralda E terminar de comer?

Pelo dia da mulher que acabou de passar, eu peço aos meus amigos arquitetos que me ajudem a provar que o pai pode fazer tanto quanto a mãe nos cuidados com o bebê. Por favor, se forem colocar o fraldário dentro do banheiro, coloquem nos dois banheiros! Vamos revolucionar o mundo e dizer a todas as pessoas que acham que pais não podem cuidar dos bebês sem a mãe por perto que eles podem sim! O que eles não podem (mesmo) é entrar no banheiro feminino!

domingo, 10 de março de 2013

O mito da caverna e o feminismo

Eu tive uma única disciplina de filosofia na faculdade - e na vida. Se chamava Introdução ao Pensamento Filosófico e Científico e era um saco. Primeiro porque uma das aulas era às sete da manhã de terça (a única aula que tínhamos as sete da manhã, o único dia que eu tinha que acordar mais cedo). Segundo porque a outra aula tomava toda a tarde de sexta. Sabe, tarde de sexta, aquelas horas em que a única coisa em que você pensa é que quer que acabe logo pra chegar o fim de semana? Pois é. Por último, mas não menos importante, porque era uma aula chata de filosofia.
De tudo o que lemos em sala naquele semestre, eu me lembro de duas coisas: uma, de que "o ser é e não pode não ser, enquanto o não ser não é e não pode ser de forma alguma". O nome do filósofo eu tive que procurar no Google: Parmênides de Eléia. Eu nunca entendi exatamente o que ele quis dizer ou a que se aplica, pra falar a verdade, mas decorei a frase porque achei divertida a forma como ela não fazia nenhum sentido na minha cabeça.
A segunda coisa é legal, é de Platão (mas eu tive que procurar isso no Google também, porque não lembrava): O Mito da Caverna (ou a Alegoria da caverna). Resumindo a grosso modo, ele compara a humanidade a um grupo de pessoas acorrentadas, desde a mais tenra infância, no fundo de uma caverna, olhando para a parede. Tudo o que elas sabiam do mundo fora da caverna, eram as sombras que se formavam na bendita parede. Do lado de fora, escravos carregavam, para lá e para cá, sobre os ombros e por detrás de um muro, vasos, trouxas, estátuas, whatever... E, assim, essas pessoas no fundo da caverna, que só viam sombras, acreditavam que fora dali viviam serem gigantes, de formas estranhas, blá, blá, blá. Até que um dia, um desses acorrentados consegue sair da caverna e vê que não era nada disso. E volta para contar aos demais, que, claro, não acreditam nele.
Esse cara era o filósofo. E, segundo Platão, sua missão era justamente esclarecer a sociedade sobre assuntos que ela desconhecia, e de que ele, como estudioso e iluminado, já tinha compreensão.
(E que me perdoe meu professor de filosofia se eu entendi tudo errado)
Resumindo a mais grosso modo ainda: é Matrix, minha gente! E tipo "Matrix A.C."
E porque eu estou falando disso agora? Porque eu fico seguindo esses blogs de feminismo e tem sempre um mala pra dizer um "mas e as mulheres que querem ficar peladas na TV? Vocês estão dizendo que elas não têm direito? E as que querem casar com o cara que as trata mal? Não podem mais escolher? E as que querem fazer tudo isso o que vocês lutam contra? Cadê o livre arbítrio?" (chaaatos)
A resposta é simples: Mito da caverna. A gente adoraria que todas as mulheres tivessem a consciência de que não precisam aceitar certos tipos de coisa, que todas pensassem que vale a pena ser mais do que mais uma bunda na TV, que todas aquelas que querem emagrecer ou alisar o cabelo apenas para se encaixar nos padrões de beleza impostos pela mídia se assumissem baixinhas, gordinhas, cacheadas e felizes, e que a mídia fosse simplesmente obrigada a pensar em produtos para atendê-las, em vez de obrigá-las a atender aos produtos que a mídia quer vender. Mas principalmente, a gente adoraria que elas fizessem suas escolhas conscientemente, e que fossem respeitadas por isso.
Mas tem gente, homem e mulher, que ainda está lá no fundo da caverna, olhando pra parede. Tem mulher que julga mulher como se fosse homem, e machista. Tem gente que ainda culpa a mini saia da menina pelo estupro. Tem gente que me diz que ensinar a escovar os dentes é tarefa da mãe, necessariamente. Tem gente que ainda acha o sujeito que trata as mulheres com educação e respeito, não é homem de verdade. Que dois homens de mãos dadas é nojento, mas duas mulheres se beijando, aí sim é legal porque né? pornô de graça.
Ainda tem. E vai continuar tendo, infelizmente, por muito tempo, ainda. O que a gente faz - e esses blogs fazem bem melhor que eu - é tentar mostrar como pode ser a vida do lado de fora da caverna. Fora da matrix. E cada um que a gente consegue trazer pro nosso lado é uma vitória. É mais uma menina que não vai transar só para agradar o namorado. É mais um cara que vai ensinar o filho (dando o exemplo, do jeito que tem que ser) que mulher tem que ser tão respeitada quanto o homem. É mais um jovem que vai sair do curso de marketing pensando em uma maneira nova de fazer propaganda - que não seja mulher pelada pra cerveja e mulher de aliança no dedo pra produto de limpar o banheiro. E que não sejam os pais bobões de sempre (só eu reparo que pai de comercial é sempre bobalhão?), que explodem o microondas e só servem pra comprar celulares novos pros filhos -. É um futuro arquiteto que vai colocar uma mesa de trocar fralda no banheiro masculino também, porque pai também pode trocar fralda, afinal de contas. Sei lá vários exemplos.
Várias coisas.
Cada uma dessas pessoas vai ajudar a construir um futuro melhor, assim, mesmo, bem piegas. é o que eu espero de tudo isso. Eu vivo num mundo machista, mas meus filhos hão de viver num mundo mais equilibrado. Meu filho não há de me dar o desgosto de transar com a namorada desacordada e minha filha não há de me dar o desgosto de achar que TEM QUE participar do Miss Bixete pra ser aceita pela sociedade acadêmica. E isso, pra mim, já vai ser uma vitória do meu feminismo.
Porque mentalidade não se muda retroativamente, e porque a gente começa a mudar o mundo mudando o que está mais próximo de nós.

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

Pra Camillinha

Camillinha me pediu um post. Pediu num dia e começou a me cobrar logo no dia seguinte. E como ela leu vários posts nesse meio tempo eu achei que ela merecia.
Camillinha está planejando sua ida para o Canadá.
Quando o meu primo foi para o Canadá fazer intercâmbio - que nem a Camillinha vai fazer no ano que vem - seu professor da faculdade se referia ao país como " O e-le-tri-zan-te Canadá". Assim mesmo, com as sílabas bem separadas e enfatizadas com a ironia de quem queria dizer que nada de realmente eletrizante acontecia por lá. Não tinha escândalo no Canadá, não tinha notícia. Um país daquele tamanho e a gente quase esquecia que ele existia porque quase não ouvia falar dele. O Canadá era só neve e civilidade. Era quase a Suécia (aliás, tem muito sueco radicado por lá) de tão pouco que a gente sabia dele.
Eu ouvia muito falar do Canadá porque a mãe de uma amiga da faculdade morava lá e ela pretendia tirar o visto de imigração assim que se formasse - e de fato o fez. E deixou quase toda a nossa turma com uma pontinha de vontade de fazer o mesmo. Aliás, conseguiu levar outra amiga com ela. E quase me levou também.
Hoje o Canadá é famoso. Desde que a Luíza foi para lá, ela e o Canadá viraram celebridade.
Agora, vai ser o pai da Camillinha que vai poder dizer que reuniu toda a família, "menos Camilla, que está no Canadá".
Pois minha "pintinha", deixa eu dizer uma coisa: prepare-se para os melhores momentos da sua vida! Prepare-se para ver como o  mundo é realmente enorme e como as possibilidades são muito mais numerosas e diversificadas do que a gente imagina antes de sair de casa pela primeira vez.
Passeie muito! Leve um mapa, mas deixe-se perder um pouco na cidade também. É legal andar pelas ruas observando o que a cidade tem, além dos pontos turísticos. Ache uma feirinha de artesanatos ou um mercado que venda coisas gostosas e que não esteja no guia turístico ( by the way, eu tenho um guia de Montreal e Quebec que posso te emprestar). Sente na praça e observe as pessoas. Faça piqueniques nos parques.
Não se acanhe ou desanime em passear sozinha.Descobrir as coisas sozinha te dará uma perspectiva muito particular sobre suas descobertas. Não esteja sempre sozinha, também. Converse com as pessoas. Faça amigos de quantos países puder (no Canadá tem gente de todo canto). O que você aprende sobre o mundo simplesmente batendo papo com as pessoas é inacreditável!
Você vai descobrir que é possível, sei lá, fazer café de mil jeitos diferentes. Que as pessoas comem coisas diferentes no café da manhã e que o seu pão-com-manteiga-e-café-com-leite é que é diferente para elas. Que eles lidam de forma extremamente natural com alguns dos nossos tabus e que coisas que nos são corriqueiras podem ser boas pedras nos sapatos dos outros. Vai entender melhor a diferença entre culturas, lidar com diferenças de valores e, com isso, se livrar de preconceitos (sim, todo mundo tem seus preconceitos) e lidar melhor com as pessoas à sua volta. Vai aprender novas formas de se divertir (tranquilize seu pai, estou falando de formas lícitas e saudáveis de se divertir).
Dê notícias aos seus pais diariamente. Isso é  muito importante! Nem que seja só um sinal de fumaça para eles saibam que você está viva e bem. A gente ainda não entende porque eles de descabelam tanto por causa de um dia sem notícias, mas um dia você vai ter filhos e mandá-los para o intercâmbio e provavelmente vai entender o que eles sentirão agora.
Tente alguma coisa que nunca teve coragem porque não sabia o que seus amigos iam dizer (tipo mudar o corte ou a cor do cabelo, nada de tatuagens ou coisas definitivas, tá?).
Agarre essa oportunidade com todas as suas forças e aproveite ao máximo, porque a gente nunca sabe quando ou se vai ter outra. Volte para casa sã, salva e cheia fotos e de coisas pra contar. E prepare-se para passar um bom tempo pensando no quanto quer fazer tudo de novo.