sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Carta para Juliane Araújo

Querida Juliane,

Você certamente não sabe quem eu sou, nós não nos conhecemos. Isso deve ser normal na sua vida - pessoas que você nunca viu saberem quem você é -, afinal é uma artista. E como artista, tem sua figura e suas palavras divulgadas (com maior ou menor precisão) em todo tipo de meio de comunicação existente.
É o que as pessoas chamam uma "formadora de opiniões". E é justamente por isso que estou lhe escrevendo.
Recentemente, a Lola publicou um guest post meu no blog dela. Não se você a conhece, mas ela é bem famosa entre as feministas. Eu comentava justamente o conteúdo feminista da novela, falava do cuidado com que o tema estava sendo abordado, misturado à linda produção e ao trabalho excelente dos atores (aliás, que elenco, hein? Parabéns por fazer parte desta equipe). Falava da luta de Laura e Isabel, para serem aceitas pela sociedade pelo que são e não por aparências, das dificuldades de tantas mulheres (inclusive a sua Alice) em se anular para se enquadrar no padrão que a sociedade dita e em como todas essas situações são tão atuais, ainda, infelizmente.
Dezenas de comentários sobre a novela e seu conteúdo foram postados pelos leitores da Lola. Muita gente, assim como eu, assistia à novela pelo site, à noite, pois ainda estava no trabalho ou no caminho para casa na hora em que ela é exibida na televisão. Muita gente que não assistia foi lá no site conferir. E aí, navegando pelo site, demos de cara com a sua declaração sobre não ser feminista, mas gostar de receber flores e galanteios - como se uma coisa excluísse a outra -, e muita gente ficou desgostosa no meio de uma discussão que ia tão bem.
Eu não estou aqui para julgar ninguém, mas precisamos que as coisas fiquem claras. Ao que me parece você simplesmente não tem clareza do que é o feminismo. Não a culpo, a mídia é assim mesmo, esconde, distorce, mostra só o que interessa. Muita gente ainda acha que as feministas não necessariamente lésbicas ou mal amadas, avessas a tudo o que venha dos homens, pois que não precisam deles para nada.
Acontece que foi a sua declaração que vimos, e por isso endereço esta carta a você. Afinal, como já disse, você agora faz parte desse grupo chamado "formadores de opinião".
Então, deixa eu explicar um pouco como são, realmente, as coisas: você disse (ou, pelo menos, publicaram assim) em sua entrevista:

     "(...)gosto de tudo que trás romantismo. Tenho namorado e gosto de sair para jantar, ganhar flores...Quando era adolescente, achava que tudo era besteira. Hoje acho tão bonito! Não sou feminista. Gosto do homem galanteador, gentil”

Pois bem: muitas de nós, mulheres feministas, somos românticas no sentido mais comum da palavra e adoramos tudo o que traz romantismo às nossas vidas. É claro que não dá para generalizar, cada pessoa é uma pessoa, mas de uma forma geral, acho que todo mundo busca o amor para a sua vida. O que nós não aceitamos é que nos coloquem dentro de uma forma, e nos digam que mulheres devem ser românticas desse ou daquele jeito, que devemos gostar disso ou daquilo, agir assim ou assado. Afinal, o que é romântico para um, pode não ser para o outro, certo? Nem todo mundo acha romântico se vestir de cor de rosa e ficar sentada no alto da masmorra esperando o príncipe encantado. Nem todo mundo gosta de cavalos brancos ou carruagens.
A maioria absoluta de nós (tirando, talvez, as alérgicas) também A-DO-RA receber flores! O que nós não aceitamos é a obrigação de sermos submissas às vontades de quem nos dá as flores.
Muitas de nós tem namorados (ou namoradas), maridos, companheiras, e adora sair para jantar, ir ao cinema, ou seja lá o que for. O que nós não admitimos é que nossos acompanhantes tenham o direito de escolher ou vetar o que nós vestimos nessas ocasiões, por exemplo. Ou de que algum desconhecido se sinta no direito de nos importunar caso estejamos sozinhas no restaurante.
Nós, inclusive, de uma forma geral, achamos bonitinho se eles puxam a cadeira, pagam a conta, nos dão passagem e abrem a porta do carro. O que nós combatemos veementemente é que em troca de toda essa gentileza, nós sejamos obrigadas ou coagidas a ir para a cama com eles. Mesmo que o cara seja seu namorado.
Em suma, nós também AMAMOS homens galanteadores e gentis, nós apenas ampliamos este conceito para além das flores e dos jantares. Homens gentis são aqueles que sabem respeitar uma mulher. A que está com ele e as que não estão. Que não ficam fazendo piada nem comentários grosseiros sobre as mulheres, que não vão aproveitar o dia em que você bebeu um pouco a mais para forçar uma barra e que não sairão por aí te ofendendo porque você não o quis.
Gostamos de homens galanteadores, mas não cafajestes. O tipo que solta galanteio para tudo o que é mulher que passa na rua está na nossa lista negra.
Nós adoramos os homens que nos reconhecem como pessoas (não objetos) de igual importância social. Que respeitam nossa inteligência e se orgulham de nossas conquistas.
Nós não lutamos contra os galanteios e gentilezas. Lutamos por respeito, puro e irrestrito. E adoramos os homens que se juntam a nós nessa luta. Os que ficam felizes e orgulhosos em ser nossos parceiros e amantes, não os querem ser nossos donos.
E, se possível, que tragam flores. E chocolates, também. Nós adoramos os homens que trazem chocolates.

domingo, 13 de janeiro de 2013

guest post meu no blog da lola

Eu, muito chique no blog da Lola!
http://escrevalolaescreva.blogspot.com.br/2013/01/guest-post-lado-lado-uma-novela.html

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Feliz ano novo!

Ah, o Reveillon! Que data sublime!
Ao contrário da indiferença crescente que sinto pelo natal, o ano novo sempre me cativa. Como na época da escola, em que comprávamos os cadernos novos para o ano letivo que se iniciaria. Ao contrário dos cadernos do ano anterior, quase completamente escritos, com algumas orelhinhas inevitáveis (inevitáveis sim, eu cuidava muito bem dos meus cadernos), marcas de borracha (nunca fui adepta do liquid paper - quando escrevia errado à caneta, eu simplesmente riscava e escrevia o correto do lado) e algumas páginas arrancadas, os novos cadernos eram branquinhos, as capas impecáveis, as espirais redondinhas.
Eu gostava de ver minha mãe encapá-los e escrever nossos nomes nas etiquetas. Mais tarde, passamos a fazer as etiquetas no computador e meu pai deixava que escolhêssemos um desenho simples para o cantinho delas.
A compra de material ainda dava a possibilidade de inovar, de fazer diferente: por que não um fichário, um caderno de mais matérias ou pastas para folhas soltas de anotações? Esse tipo de liberdade que a gente ganha com a idade (na primeira série todo mundo tinha que ter cadernos do mesmo tamanho, encapados com plásticos da mesma cor).
Nós não tínhamos os cadernos nem os lápis mais caros, com os desenhos da moda. E isso nunca fez diferença. Ninguém tinha cadernos tão bem encapados quando os nossos.
No final do ano, minha mãe tirava as folhas brancas que sobravam dos nossos cadernos, cortava a beirada da espiral e guardava como folha de rascunho. Elas ficavam como novas! Quando eu resolvi usar fichário, em vez de caderno, nós pegamos o furador e transformamos essas folhas antigas e folhas de fichário novinhas (em folha). Renovação sustentável.
Aliás, meus bloquinhos de anotação, em casa, hoje, ou são brindes, ou são folhas não usadas as minhas últimas agendas (tem bem uns cinco anos que não uso agendas).
E assim, o ano novo é, para mim, como comprar material escolar novo. Folhas em branco, borrachas novas, apontador amolado, lápis ainda sem ponta e canetas cheias de tinta. Alguma coisa que se utilizou no ano anterior ainda pode ser utilizado, se estiver em boas condições. Muitas vezes, "lavou, tá novo".
É o momento em que você reúne tudo o que precisa para começar mais um ano de vida. O que pode ser aproveitado do ano anterior, o que vai pro lixo. O que deve ser continuado e o que pára por ali mesmo.
Aqueles 16 minutos de queima de fogos (se você estiver em Copacabana) me deixam tão hipnotizada que é como se cada ano vivesse em uma dimensão diferente e aquele fosse o momento nós somos transportados de uma para outra. E quando os fogos terminam, dá um alívio, um vazio bom de dever cumprido pelo ano anterior e de empolgação ante as possibilidades do ano que se inicia.


post de natal, atrasado

Então foi natal. E eu tenho que confessar que tenho cada vez menos entusiasmo com a data. Sobre o natal eu penso o mesmo que de outros feriados: qualquer desculpa para estar com a família da gente é bem vinda. No meu caso, que trabalho nos feriados, nem pra isso o natal serve muito, mais.
Pra mim, natal é coisa de família com crianças pequenas, que ainda acreditam em Papai Noel (e eu imagino que essa seja uma fase cada vez mais curta na vida das crianças, hoje em dia).
Acho que isso começou quando o natal passou a chegar em outubro, logo pós o dia das crianças.
Eu entendo que as empresas querem vender, e que para elas qualquer desculpa para vender é que é bem vinda, mas o fato é que - quando o natal finalmente chega - eu já estou cansada de ouvir falar em presentes, decoração nevada e papai noel que, sabe Deus como, não passa mal no calor do verão carioca.
Fica chato.
Quando eu era pequena - e acho que já comentei algo sobre isso em outro post - as férias de fim de ano eram o tempo de ir para a casa das avós e encontrar os primos. Isso porque normalmente nós ou eles estavam morando longe. Final de ano significava chegar cedo na Rua Selva e ficar esperando os Mazzini chegarem ou chegar depois deles e ficar na dúvida entre subir a ladeira da casa da vovó buzinando ou no mais absoluto silêncio, para que só soubessem da nossa chegada quando já estivéssemos na porta da casa. Significava que pensaríamos, ensaiaríamos e apresentaríamos nossas peças e apresentações musicais para a família (e, invariavelmente, brigaríamos durante esse processo)
Final de ano significava ir para a casa da vovó Maria e bagunçar tanto o quarto dela com os primos que é realmente incrível que ela não se aborrecesse. Era gastar resmas de papel desenhando mensagens de "salve a natureza" pra distribuir no parque, perto da casa da dinda.
Naquela época, o fim de ano tinha todo um contexto e o natal fazia todo o sentido como sendo uma festa para comemorar a época em que as minhas famílias conseguiam se reunir por uns dias. Era época de férias escolares e tal.
Faz muito tempo que eu tenho férias no fim do ano. Um dia ou dois de folga para comemorar o natal ou o ano novo, assim, meio corrido.
Natal passou a ser um dia isolado, precedido de quase 3 meses de anúncios de coisas que eu não deveria deixar de comprar para deixar as pessoas que eu amo felizes. Um dia em que, todo ano, se come a mesma comida.
Aliás, o sonho natalino da minha vida é servir pizza na ceia de natal. Nem que seja de pizza de peru. Só pra ser diferente.
Acho que se fala tanto em presente que o natal ficou meio empacotado, meio rotulado. Ficou meio chato, previsível.
E eu ainda tenho a sorte de realmente gostar de estar com a minha família! Porque né? tem gente que nem isso. Eu canso de ouvir por aí piadas e comentários sobre como é chata uma reunião de família. E aí as pessoas têm que se aturar porque é natal. E elas não têm só que se aturar, têm que fingir que se adoram. E comprar presentes umas para as outras.
Não me entendam errado. Não é nenhum tipo de amargura. É só uma constatação de que uma coisa tão valorizada pela mídia vem, gradativamente, perdendo a importância para mim. Ou, ao menos, perdendo a sua essência...
Quer dizer: eu gosto de estar com a minha família. E qualquer desculpa vale. Mas se isso acontecer no natal, ou no meio de agosto, pra mim não faz diferença.
Apesar disso, eu devo admitir que gosto muito das minhas coisinhas de natal - que não montei este ano porque a gata destruiria tudo quase que imediatamente: minha árvore, feita em madeira pelo papai, com todo o carinho, nos mesmos moldes em que o meu bisavô fez uma para cada filho, e que, depois, minha mãe e minhas tias ganharam as suas também. Na minha, nem bolas de vidro, nem luzes, nem neve falsa, só bonequinhos de madeira pendurados por finos fios dourados, que dão um certo brilho ao conjunto. Uma verdadeira e delicada obra de arte. E o presépio: argentino, fofo, tem uma lhama entre os bichinhos da manjedoura A lhama e os pés gordinhos de José e Maria foram decisivos na minha escolha. São bonitinhos. Mas até que eu arrume uma redoma de vidro para mantê-los a salvo da Estrelinha, ficarão encaixotados, para sua própria segurança.
No móvel da sala, apenas meu lindo julbock (http://pt.wikipedia.org/wiki/Julbock), trazido diretamente da Suécia pelo querido Niclas, quando veio ao Brasil, Já não me lembro se ele deve ficar virado para o norte ou para o Sul, para afugentar os maus espíritos, mas também não sei se os maus espíritos do hemisfério sul chegam pelo mesmo lado que os da Escandinávia, então ele fica lá, só enfeitando. O ano todo.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Coisas que vale a pena a gente compartilhar

Precisei compartilhar esse depoimento de uma amiga muito querida, aos 45 minutos do segundo tempo de 2012. É tão lindo e tão inusitado! Para refletir e começar 2013 com mais disponibilidade para os outros:

"Voltando pra casa agora de manhã, entrei no ônibus em copa e alguns segundos depois alguém me "cutuca" no ombro. Demorei um pouco pra reconhecer, mas me lembrei que era um jovem motorista da linha 415 que eu pegava de madrugada em Copa quando trabalhava até meia noite. Depois dos "Ah oi, tudo bem, quanto tempo" eu pergunto como ele está e ele fala: 

"Lembra da última vez que viemos conversando no ônibus? Já faz muito tempo...você me deu muita força pra eu voltar a estudar, fazer alguns cursos...então, terminei meu segundo grau naquele ano e logo depois consegui uma bolsa pra uma faculdade! continuo trabalhando aqui na empresa, mas já não sou mais motorista, estou trabalhando na administração. Nunca mais te vi por aqui então não tive a oportunidade de te agradecer, viu? Obrigada! Feliz 2013 pra você"