segunda-feira, 30 de julho de 2012

é pro fantástico?

Quando eu era solteira, morava sozinha e não trabalhava nas tardes de domingo (o que nos remete a um longínquo tempo de faculdade), eu costumava ficar acordada até o mais tarde possível nos sábados para me certificar de que dormiria até bem tarde no domingo (não que eu precise de muito cansaço para dormir até tarde). Daí enrolava na cama mais um tanto, tomava um banho beeeeeem demorado arrumava alguma coisa para comer e ia ao cinema. Sozinha mesmo. Com sorte, chegava em casa já pela hora do Fantástico e não tinha que ficar reclamando a má sorte de não ter TV a cabo em casa. Ir ao cinema sozinha não me incomodava, o que me incomodava era o Faustão. O Gugu conseguia me fazer dormir e nem me lembro quais eram as outras opções, na época. Lá no meio da tarde ainda tinha o futebol e a minha internet era discada, sem grandes atrativos.
Hoje, na hora do futebol eu não escapo. Tenho que arrumar outra coisa pra fazer porque tem homem na casa e do tipo que assiste até campeonato colegial, se deixar. Para o horário do Faustão, alugamos algum filme, já que nem a TV a cabo é garantida nas tardes de domingo.
A questão é que naquela época do cinema, eu achava o Fantástico um programa legal. Não chegava a ser "fantástico", mas distraía bem o fim de domingo. Não sei se eu fiquei mais crítica ou se o programa está perdendo a graça, mas tenho achado as reportagens tão chatinhas e sem conteúdo que eu prefiro ficar jogando paciência no celular a maior parte do tempo. O único que realmente se salva é o Tadeu Schmidt - esse sim, digno do nome do programa. Acontece que por melhor que ele seja, não parece certo que a melhor parte do Fantástico sejam os gols da rodada.
Hoje, por exemplo: nós alugamos um DVD depois de assistir algumas competições olímpicas e não vi o começo do programa. Na hora em que sintonizei a emissora, estavam apresentando um pseudo júri popular, formado por fãs do casal Robert Pattinson e Kristen Stewart para julgar a infidelidade da moça. Verdade ou montagem? E se foi verdade, ela merece ser perdoada? Eu consigo até entender que as pessoas gastem seus momentos de ócio discutindo esse tipo de coisa com os amigos e mesmo nas redes sociais, mas virar matéria do "horário nobre" do domingo? Sério?
Em seguida veio a estória do casal Mundinho e Gerusa. Que não são da Bahia, que não viveram um amor proibido que não... nada. Que de comum com o casal da novela só têm o nome que, ok, o dela os pais deram por causa da personagem, mas de resto, o que mais tem nesse país é Raimundo (tá, o que mais tem é José e Maria, mas Raimundo é o 14o da lista de mais populares http://g1.globo.com/jornal-da-globo/noticia/2011/11/confira-lista-completa-com-os-50-nomes-mais-populares-do-brasil.html)! Frustrei. Achei que ia encontrar mais semelhanças entre os personagens da novela e os reais...
Como hoje eu não vi os gols da rodada, a melhor parte foi o mago das receitas. Não porque o quadro seja super legal, mas porque o meu digníssimo odeia e reclama pra caramba do início ao fim. Tem dias que eu simplesmente mudo de canal, mas hoje foi um dos dias em que eu achei graça de ouvi-lo resmungar de tudo o que o pobre Felipe Bronze fez (e eu até achei que a cara ficou boa).
Depois nós conseguimos achar um bom filme passando em algum outro canal e ficou por isso mesmo.
Não sei se sou só eu, mas sinto os domingos ficando cada vez mais vazios e sem graça. Deve ser um sinal pra gente sair da frente da televisão e ir à praia, ler, jogar bola, passear com o cachorro, conversar com os amigos, passar mais tempo com a família ou namorar mais. Com a TV desligada. Mas será que a gente consegue?

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Sobre nomes. Sobrenomes

Meu avô paterno se chama Ivair Brito Peres. Minha avó tinha por último nome de solteira Gonçalves. Por algum motivo desconhecido, quando se casou, em vez de passar a assinar Maria Gonçalves Peres - como seria de praxe - minha avó passou a assinar Maria Gonçalves Brito e, da mesma forma, meu pai e minhas tias foram registrados com o sobrenome Gonçalves Brito.
Meu futuro sogro se chama Narciso Gonçalves Pires. Se as coisas tivessem acontecido como "deveriam", eu teria o sogro Gonçalves Pires e o pai Gonçalves Peres - o que seria uma coincidência divertida. Eu seria Juliana Peres, em vez de Juliana Brito, e, sendo meu noivo Diego Pires, se eu passasse a usar seu sobrenome após o casamento, seria Juliana Peres Pires (olha o ridículo hahaha).
Isso se eu tivesse casado a alguns anos atrás ou em outro cartório, porque a lei diz que você tem o direito de adicionar o sobrenome do seu cônjuge ao seu, somente, e muitos cartórios já não permitem que a mulher suprima o sobrenome da mãe ao adicionar o do marido, como sempre se fez. O cartório em que nos casaremos é um desses.
Assim, como não posso virar Juliana Brito Pires e como Teixeira de Freitas Brito já é sobrenome longo o suficiente para uma pessoa, eu optei por não colocar mais um nome na fila e manterei meu nome de solteira após o casamento.
A sensação é estranha. As pessoas dizem que assim é mais fácil, não tem que tirar todos os documentos de novo e se o casamento der zebra, não tem que desfazer tudo uma vez mais. Pra mim, soa meio agourento, como se você já casasse pensando no divórcio que virá. Eu sei que o número de divórcios aumenta a cada dia, mas acho que a maioria das pessoas não casa pensando em se separar. Trocar o nome pode ser trabalhoso, mas é romântico. Para as meninas românticas e noivas apaixonadas, que sonham com suas vidas de casadas, assumir o sobrenome do outro é um prazer, não importa quanto tempo você vai levar pra trocar tudo o que é documento depois.
(Só para constar, na Suécia os noivos podem escolher à vontade, até onde eu sei. Podem ficar os dois com o sobrenome da mulher, inclusive. Pode ela ficar com o dele e ele com o dela pode ser primeiro o dele e depois o dela, etc, etc)
Não entendi o porquê de os cartórios me impedirem de fazer com o meu sobrenome o que já se fazia há décadas. Mais, não entendo porque eles se metem no meu sobrenome, mas não se metem quando uma mãe resolve registrar o filho com aqueles nomes absurdos que a gente vê por aí e que somente um quadro crítico de depressão pós parto explica. Esses nomes que você não imagina como uma mãe que acabou de dar à luz segura seu bebezinho cheia de amor e diz: "ele vai se chamar Evandinicleison" (ou coisa pior). Eu me pergunto se as condições das maternidades não influenciam nesses quadros de ódio pelo seu próprio rebento. E o que acontece com os pais dessas crianças, que aceitam essas coisas e vão lá no cartório e registram a tragédia?
Nessa hora o cartório não diz que não pode. A lei não diz que não pode. Não diz nem pro tal pai voltar pra casa, pensar melhor, conversar com a mãe da criança sobre a repercussão de um nome desse na vida da criança e voltar no dia seguinte. Não pede a um assistente social que vá ver em que condições psicológicas vive essa família pra querer fazer isso com o pobre bebê. Ninguém é obrigado a ter bom senso. O corretor ortográfico tem o bom senso de sublinhar em vermelho o nome Evandinicleison quando eu o escrevo, mas deixam registrar. E eu não posso virar a senhora Juliana Brito Pires porque eles têm certeza de que eu vou me divorciar! Aff...

domingo, 15 de julho de 2012

Atenção, prepara.... Valendo!

Lembra do programa Passa ou Repassa? Ou do Video Game, do Video Show, um tempo atrás (não sei como está hoje)? Ou qualquer outro similar. Volta e meia aparece um programa na TV nesse mesmo formato: os competidores, sozinhos ou em equipe, ficam atrás de uma bancada. Uma pergunta é feita, mãos para o alto, atrás da orelha, aguardam tensos pelo "valendo!" (ou "já!", "agora!", etc) do apresentador. Ao sinal deste, os competidores rapidamente apertam um botão, na bancada à sua frente, que acende uma luz ou faz um barulho que lhe dá o direito de responder a pergunta. Resposta correta: ponto! Quem aperta o botão primeiro, portanto, sai na frente no tal jogo.
Substitua o apresentador por um semáforo, a bancada por um carro e os botões por buzinas e você terá o trânsito das grandes cidades. Os competidores são bons! Nem bem o sinal fica verde, dezenas de buzinas já estão tocando, desesperadas, como se fossem realmente ganhar algum prêmio por isso. Não vão.
Talvez o prêmio esperado seja o tempo. Talvez elas pensem que se em cada sinal de trânsito no seu percurso conseguirem ganhar alguns milésimos de segundo, ao final do dia tenham mais tempo para seus hobbies, famílias ou trabalho extra, sei lá. Talvez eles achem que suas buzinas têm poderes mágicos e que se as tocarem bem depressa alguns carros à sua frente simplesmente desaparecerão do trânsito, deixando o caminho livre. Ou talvez sejam pessoas desligadas e tenham instalado em seus carros algum tipo de sensor que os avise quando o sinal abriu, para que se liguem de andar com o carro. Talvez achem que todos à sua frente sejam igualmente desligados a ponto de não ter percebido que o sinal abriu.
O mais provável, no entanto, é que estejam apenas gozando do seu "direito de ser um babaca", sobre o qual falei em outro post (http://www.vouemboraprasuecia.blogspot.com.br/2012/07/voce-tem-todo-o-direito-de-ser-um.html). Ficam irritados com o trânsito e resolvem levar todos os demais à loucura. São, em outras palavras, uns pentelhos mal educados. Mas é incrível quantos desses você encontra na rua todos os dias!
Pro caso de alguém ter perdido essa aula na auto escola, segue uma pequena lição sobre a buzina:


"O artigo 41 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB) define o uso da buzina. O condutor de veículo só poderá fazer uso de buzina, desde que em toque breve, nas seguintes situações:
I - para fazer as advertências necessárias a fim de evitar acidentes;
II - fora das áreas urbanas, quando for conveniente advertir a um condutor que se tem o propósito de ultrapassá-lo.
Observem que o uso se dá em toque breve. Pois é, deveria ser assim, mas quem nunca foi acordado de madrugada com um maluco apoiando o braço na buzina? Mais uma lei que não se aplica na prática. No artigo 227 estão as circunstâncias passíveis de multa:
I - em situação que não a de simples toque breve como advertência ao pedestre ou a condutores de outros veículos;
II - prolongada e sucessivamente a qualquer pretexto;
III - entre as vinte e duas e as seis horas;
IV - em locais e horários proibidos pela sinalização;
V - em desacordo com os padrões e freqüências estabelecidas pelo CONTRAN;"



E tem ainda os chatos dos motoristas de ônibus que, impedidos de buzinar, ficam piscando o farol e fazendo "TSSSS! TSSSSS!". E olha que eles nem podem andar mais rápido que você, no fim das contas.
Falta paciência, falta educação, falta parar de achar que o mundo - e o trânsito - giram apenas em torno do seu umbigo. Vamos entender de uma vez por todas que: 1- se você viu que o sinal ficou verde, o amiguinho do carro da frente, provavelmente, também viu. 2 - sua buzina não é mágica, ela é chata, inconveniente e ineficaz quando o assunto é fazer com que o trânsito ande mais depressa.





sábado, 14 de julho de 2012

os correios e a felicidade

Antigamente, qualquer pessoa podia enviar uma carta social. Bastava que ela pesasse menos de dez gramas, fosse manuscrita e que você escrevesse no envelopa "carta social". A postagem saía para qualquer um por um único centavo (por conta disso, os correios costumavam ser os únicos estabelecimentos com moedas de R$ 0,01 na vizinhança). Eu mesma enviei várias, na época em que trocava cartas - em vez de emails ou publicações nos murais - com os amigos. 
Hoje em dia só pode enviar carta social quem recebe o Bolsa Família, de acordo com o site dos correios. O restante de nós pagará pelo menos oitenta centavos por uma carta não comercial ou cartão postal de até 20 gramas. 
Esta é a tabela que você encontra no site dos correios para este tipo de correspondência:

Carta não comercial e Cartão Postal

Vigência 19/06/2012 - Preços em R$ 
Peso (g)BásicoRegReg+ARReg+MPReg+AR+MP
Até 200,803,806,807,8010,80
Mais de 20 até 501,254,257,258,2511,25
Mais de 50 até 1001,704,707,708,7011,70
Mais de 100 até 1502,155,158,159,1512,15
Mais de 150 até 2002,655,658,659,6512,65
Mais de 200 até 2503,106,109,1010,1013,10
Mais de 250 até 3003,556,559,5510,5513,55
Mais de 300 até 3504,007,0010,0011,0014,00
Mais de 350 até 4004,457,4510,4511,4514,45
Mais de 400 até 4504,907,9010,9011,9014,90
Mais de 450 até 5005,408,4011,4012,4015,40
(Fonte: http://www.correios.com.br/precosPrazos/precosPrazosNacionais/Carta.cfm)

Por ela fica fácil entender que quanto maior ou mais pesada é a sua carta, e quanto maior a garantia que você quiser de entrega, mais terá que pagar por seu envio.
Para enviar um Sedex de 300 gramas em um envelope do tamanho de uma folha de A4 de Rio para São Paulo, eu gastaria, aproximadamente, R$ 20,00. Seriam R$ 29,00 para Sedex 10 (aquele que entrega até as dez da manhã do dia seguinte e R$ 61,00 para que meu envelope fosse entregue no mesmo dia e com a garantia de que não seria extraviado.

Eu não estou recebendo um único centavo (em dinheiro ou crédito para carta social) por essa propaganda dos serviços da ECT, apenas fazendo uma introdução para o assunto de que realmente trata esse post: o dinheiro. Afinal, ele traz ou não traz a felicidade?
Não, ele não traz. Mas, como eu costumo dizer, paga o Sedex.
Quer dizer, você pode ser feliz sem dinheiro como a sua carta simples pode chegar ao destino sem problemas mesmo que você não pague por uma garantia, como registro ou AR (apesar das reclamações, acho que os correios continuam sendo uma empresa confiável para a maioria das pessoas. Eu, pelo menos, nunca tive nenhum problema com isso). Mas se puder pagar um pouco mais, pode acompanhar, rastrear, e ter a certeza de que sua felicidade chega na mesma semana, no dia seguinte ou mesmo no próprio dia do envio.
Quer dizer que a falta do dinheiro não impede, mas a presença dele garante a felicidade? Também não. Porque não basta receber o pacote, é preciso abri-lo e fazer bom uso de seu conteúdo. Tem gente que recebe o pacote e deixa em cima da mesa, fechado. Não percebe o valor do que recebeu ou simplesmente não liga. Tem gente que reclama porque o vizinho recebeu um pacote maior (mesmo que tenha demorado mais pra chegar) e gente que sente culpa porque sua encomenda de natal chegou na garupa de um motoboy enquanto tantas pessoas no mundo têm suas cartas extraviadas e não recebem sequer um cartão. 
Na vida real, infelizmente, a felicidade não costuma ser enviada pelo correio. Às vezes, um postal de uma pessoa querida, o resultado de um concurso ou um convite de casamento podem constituir agradáveis exceções - afinal, boas notícias carregam consigo fragmentos de felicidade. De uma forma geral, no entanto, cada um deve fazer sua própria felicidade, seja trabalhando mais por conquistas financeiras, seja trabalhando menos e disponibilizando mais tempo para outros prazeres, seja morando sozinho ou voltando pra casa dos pais, casando ou separando, tendo filhos ou adotando um bichinho de estimação. As decisões que fazem a sua felicidade dependem de como você faz planos e do quão grato consegue ser à vida quando consegue realizá-los. E também de como você reage quando alguns desses planos se "extraviam"...

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Não, eu não estou grávida.

No último final de semana, eu e meu noivo (atenção para o novo status hehehe) resolvemos antecipar nosso casamento. Estávamos planejando para o ano que vem, aí eu fiquei desempregada e os planos ficaram meio em suspenso e aí aconteceram algumas outras coisas e, no fim, por alguns motivos de ordem interna (que não são internas no meu útero), resolvemos fazer ainda este ano.
Gente! A quantidade de pessoas que me já perguntou se eu estou grávida! Mais: a quantidade de pessoas que simplesmente não acredita que eu não esteja! De boa? Se eu estivesse grávida, nesse momento, uma festa de casamento seria a última coisa em que eu estaria pensando. Em vez de antecipar o casamento eu iria adiá-lo indefinidamente, até toda a confusão (boa) que a chegada de um bebê traz passasse para, aí sim, pensar em casamento de novo. Era capaz até de esperar o bebê crescer um pouquinho, para poder participar da cerimônia.
Mas diante da situação em que me vi envolvida essa semana, fica a pergunta: as pessoas realmente ainda se casam por causa de gravidez na nossa sociedade? Assim, do tipo "ai, meu Deus, está grávida, tem que casar! Como vai ser mãe sem um marido?" Corre com os preparativos!
Ainda fazem isso?
Quando eu era mais nova, meu pai me disse que eu não deveria me casar grávida. Acho que incorporei isso pra vida toda. Disse que se eu precisasse, ele me ajudaria a cuidar da criança (claro, o ideal era que eu tomasse o cuidado de não engravidar), mas que gravidez, pura e simples, não era motivo para casamento.
Meu pai sempre disse que mesmo o amor não é suficiente, sozinho, para manter um casamento. É claro que um casal não tem que ser igual em tudo, mas algumas questões têm que estar alinhadas, ele diz, como quantos filhos pretendem ter, se morarão longe da família, na cidade grande ou no meio do mato. A gente acha que tudo vai ser lindo porque ama e está apaixonado, mas tem que parar e pensar se vai conseguir conviver a (muito) longo prazo com a bagagem que o outro traz. Se ele que que você se converta à religião dele, se a sogra vai morar com vocês, ou se existem filhos de uma outra relação e qual a sua relação com eles. Imagina se a Heloísa Schurmann não gostasse de velejar, por exemplo? (lembram dos Schurmann, aquela família que deu a volta ao mundo num barco).
Filhos podem ser criados sem que os pais estejam juntos. Não é o que todos nós idealizamos para as nossas vidas, mas é possível, sim, e é possível criá-los muito bem. Em alguns casos, é até melhor criá-los separados. Prova disso são as centenas de filhos de pais separados, felizes e perfeitamente integrados à sociedade.
Se o casamento acontece por causa da gravidez, no entanto, a mulher fica eternamente "em dívida" com o homem, como se ele tivesse lhe feito um favor, casando-se, diz meu pai. Veja os exemplos à sua volta. A relação não se dá em pé de igualdade, mas com a mulher submetendo-se ao homem "que foi tão bom em assumir a família e não deixá-la desonrada ante a sociedade", mãe solteira. E o casamento não funciona se só um dos dois (ou nenhum dos dois) quer realmente estar lá.
Depois, francamente: a gente brigando pela ideia de que a mulher pode tudo, mas não pode ser mãe sem estar casada? 
Isso não é meio antigo, não? Já não passamos dessa fase? Alguém ainda acredita que filho segura relação? Sou só eu que acho que esse não é motivo para se correr com um casamento?
Bom, não com o meu.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Dá pra ser assim?

Quero muito falar sobre essa entrevista da Oprah com as mulheres dinamarquesas (http://www.youtube.com/watch?v=o-Ys-sD7kv8). A Dinamarca foi considerada, segundo pesquisa de uma universidade britânica, o país cujos habitantes são as pessoas mais felizes e este outro vídeo traz alguns dos motivos (http://www.youtube.com/watch?v=H8woI9ExbKg).
Agora, observem as respostas das dinamarquesas às perguntas da Oprah. Como sempre, tem uma parte, em especial, que me chama a atenção: não existe uma grande diferença entre os ganhos de advogados, arquitetos, professores e açougueiros. E quanto mais se ganha mais se paga em impostos, o que faz com que a desigualdade social seja das menores. Com isso, as pessoas não escolhem seu emprego pelo que vão ganhar, mas baseados em seus interesses e valores. "Valores humanos", elas dizem.
Isso significa que os professores são professores porque gostam e querem ensinar, que os médicos e enfermeiros estão lá porque querem e gostam, e porque todos eles recebem salários dignos e têm excelentes condições de trabalho, todos os demais podem contar com excelentes educação e cuidados com a saúde, por exemplo. É óbvio que você faz melhor o que você gosta de fazer, mas aqui, do nosso lado do mundo, é extremamente comum ver pessoas desistindo das carreiras que gostariam de seguir porque não há retorno financeiro ou condições de trabalho.
Esses dias mesmo, no metrô, ouvi uma menina conversando com a mãe sobre sua escolha profissional. Ela estava desistindo de prestar vestibular para nutrição porque o piso salarial era de não me lembro quanto, mas baixo. É claro que nenhum de nós vai para a universidade pensando em sair de lá e entrar no mercado de trabalho para ganhar o piso, mas é algo que pode acontecer e ninguém quer viver com menos do que precisa para viver dignamente. Daí que nosso mercado está cheio de gente que não gosta do que faz, logo, faz mal feito e desvaloriza o trabalho de quem gosta do que faz.
Nossas escolas têm professores insatisfeitos, nossos hospitais tem médicos esgotados e toda aquela estória que a gente já conhece de cor, porque aparece na televisão todos os dias.
Segundo a reportagem, a Dinamarca é o país que mais paga impostos na Europa (lembra alguma coisa?), mais de 50% do salário, mas quase ninguém reclama, porque vêem o retorno: as escolas públicas, o auxílio desemprego que pode durar até 4 anos (mas que ninguém quer, ao contrário de algumas bolsas conhecidas), as mulheres têm um ano de licença maternidade (minha nova obsessão), etc, etc, etc.
Quer dizer, se nossos hospitais funcionassem e nossas escolas públicas fossem de qualidade, e se as pessoas realmente pagassem mais impostos quanto mais altos fossem seus ganhos, aí eu nem ia ficar tão revoltada dos nossos políticos aumentarem seus salários um milhão de vezes. Mas aqui, em vez de pagar mais porque ganha mais, a maioria sonega mais nessas circunstâncias...
Aí, lá no final da entrevista, a mocinha lança a seguinte pergunta: "você não acha estranho que somos considerados uma das nações mais felizes do mundo e também uma das menos religiosas?"
E eu pergunto: vocês não acham estranho que, apesar de serem considerados uma das nações menos religiosas do mundo, eles sejam muito mais ativos nos ensinamentos de respeito (e, por correspondência, de amor) ao próximo, e de igualdade entre os homens? De não roubar, não matar, não enganar. De não se entregar à preguiça, à ira ou à intolerância?

sexta-feira, 6 de julho de 2012

licença maternidade

Há milhares e milhares de anos atrás, quando o homem ainda vivia nas cavernas, homens e mulheres desenvolveram aptidões específicas para os papéis que desempenhavam no grupo (não sei se já podiam ser chamados de "sociedade" nesses primórdios). Os homens desenvolveram a força, o foco, a visão noturna, a noção de estratégia e o que mais lhes foi necessário para a caça e a defesa da comunidade. As mulheres, por sua vez, desenvolveram as qualidades necessárias para os cuidados com as crianças e com os homens que voltavam de suas atividades e as coisas se mantiveram assim por muito tempo, até que o homem saiu das cavernas e se organizou em sociedades, que progrediram e atingiram patamares em que homens e mulheres podem desempenhar, de uma forma geral, as mesmas atividades.
Os homens ainda têm mais força física, as mulheres ainda são mais cuidadosas, de uma forma geral, mas aquele mundo organizadinho, em que cada um tinha seu papel claramente definido no momento em que nasciam (biologicamente, antes, até), deu lugar a um outro, em que mulheres querem ir à luta (em todos os sentidos) e aos homens é cobrado que sejam mais participativos na criação dos filhos e cuidados com a casa.
Uma coisa, apenas, não ficou igual entre os sexos: apenas a mulher é capaz de gerar e amamentar um bebê. E o bebê nasce, instintivamente, dependente de sua mãe. Dela e de mais ninguém. Se se sente ameaçado, incomodado ou faminto, ele chora até sentir o cheiro da mãe, até estar em seus braços. A mãe, por sua vez, sente a necessidade instintiva de estar perto de seu filho para protegê-lo, para ter certeza de que tudo está bem com a sua "cria".
Nosso país garante 4 a 6 meses de licença maternidade. É muito melhor que muitos outros países (não a Suécia, evidentemente), mas sinceramente, acho pouco. Eu ainda não tenho filhos, mas conheço várias mulheres que têm. Acho uma violência separar os bebês recém nascidos de suas mães tão depressa. Sim, é muito depressa. Pode ser uma eternidade para a produção da sua empresa, mas para a mãe e o bebê é, certamente, um piscar de olhos!
Estou falando sobre isso porque eu tenho lido um milhão de artigos em revistas femininas falando sobre as diferenças salariais entre homens e mulheres. Não é que eu não ache injusto. Acho óbvio, se ocupam o mesmo cargo, com as mesmas responsabilidades e tudo mais, que tenham necessariamente o mesmo reconhecimento dentro da empresa, e isso inclui o salário. Nem sei porque ainda temos que conversar sobre esse tipo de coisa a essa altura do campeonato. 
Apenas eu, se pudesse escolher, receberia menos que um homem na mesma posição em troca de uma licença maternidade mais longa (lógico que não estou falando de trabalhar por metade do salário de um homem por causa disso - até porque eu não vou passar metade da minha vida profissional de licença, mas no meu mundo ideal poderia haver, sim, uma diferença razoável). Funcionaria para mim e para a empresa como uma espécie de compensação. Eu poderia passar, digamos, o primeiro ano do meu filho me dedicando exclusivamente aos cuidados que ele demandará. A empresa, por sua vez, não teria razão para sentir-se lesada com este período de ausência, posto que teria uma despesa menor comigo durante todo o período em que eu estivesse tão produtiva quanto qualquer homem de seu quadro de funcionários. Com a opção (infelizmente não pode ser aplicada a todo tipo de trabalho, mas a alguns), inclusive, de trabalhar remotamente, parte desse período.
Acho, inclusive, mais justo e digno termos uma licença maternidade prolongada do que contribuir por menos tempo. Eu, igualmente de bom grado, contribuiria os mesmos 35 anos ou me aposentaria aos mesmos 65 anos, para compensar uma licença maternidade mais longa e digna.
Não sei se sou a única a pensar desta forma ou se as pessoas simplesmente não pensam sobre o assunto. Como disse, nossa situação é melhor que a de mulheres de outros países e talvez por isso não gere discussões a respeito, mas também já comentei em outro post minha observação de que, nos artigos com "mulheres bem sucedidas" das revistas femininas, é muito mais comum ouvir sobre como essas vencedoras driblaram a culpa por não passar tanto tempo com seus filhos do que sobre como conseguiram adaptar sua vida profissional para passar mais tempo com eles E cumprir com suas metas na carreira.
É claro que a criança sobreviverá e se criará entre babás, creches e avós, mas será esse mesmo o caminho ideal? É isso mesmo o que queremos para nossos filhos e para nós mesmas?

terça-feira, 3 de julho de 2012

você tem todo o direito de ser um babaca

"Aos 28 anos, voltei a morar na casa do meu pai. Ele tem 73 anos e é sábio como Sócrates, só que desbocado e muito mal humorado", diz o americano Justin Halpern, na capa do livro "Meu pai fala cada merda" (original, em inglês: Shits my dad says). 
Eu comprei esse livro para me distrair durante o longo voo até o Canadá em minhas últimas férias. Era pequeno e parecia divertido. Como já estava levando um outro livro, achei que seria o suficiente.
Por algumas horas eu ri, sozinha, no avião. Ri não, gargalhei! As pessoas a minha volta devem ter me achado maluca, inclusive, que não se vê comumente, por aí, alguém rindo tanto com um livro.
Das muitas pérolas sábias, desbocadas e mal humoradas do livro, no entanto, uma se tornou a nossa favorita aqui em casa: "Você tem todo o direito de ser um babaca, só não deve usá-lo com muita frequência".
Vez por outra, meu namorado e eu repetimos essa frase, quase como um mantra.

Exemplo 1: o motorista fecha o carro, em alta velocidade,e vamos parar num buraco da pista para desviar, que bem podia ter furado o pneu.
Meu namorado: Filho *%#%&*! Pra quê fazer isso?
Eu: Deixa pra lá, vai, ele tem todo o direito...

Exemplo 2: a caixa do supermercado ao lado do nosso prédio joga a sacola em cima de nós - irritada por ter que nos dar 5, dos 7 centavos devidos de troco - e vira a cara, chamando o próximo da fila, como se fôssemos incômodos.
Eu, irônica: Adoro como eles tratam bem os clientes, aqui!
Meu namorado: é, mas você sabe, eles têm todo o direito de serem babacas

Exemplo 3: nossa ex chefe, mais uma vez, apronta uma das suas, fazendo qualquer coisa para tornar o ambiente de trabalho insuportável e acabar com o moral da equipe (pouparei o leitor dos detalhes sórdidos).
Horas depois, em casa, eu ainda estou irritada com o que aconteceu.
Meu namorado: Você se irrita demais, esquece isso! Não deixa ela te atingir desse jeito. Você sabe: ela tem todo o direito de...
Eu, irritada: Mas não devia usá-lo com tanta frequência! Ela abusa desse direito!

No caso da minha ex chefe, "só Jesus na causa", como se diz, mas é importante lembrarmos que as pessoas têm seus dias difíceis e que temos que tentar ser mais tolerantes. É horrível ser destratado e eu mantenho minha opinião de que falta muita educação nas pessoas, mas entendam que não estou me contradizendo: o que estou dizendo é que você tem o direito de agir errado ou dar umas patadas um dia ou outro na vida. Não é que esteja certo, mas é totalmente perdoável.
O motorista que fechou nosso carro podia estar a caminho do hospital, nervoso porque alguém da família passou mal. A caixa do supermercado podia ter acabado de levar uma cantada do chefe. Vai saber.
Você pode se irritar porque está de TPM ou porque sua mulher está de TPM, porque o maldito telemarketing te ligou às 8 da manhã de um domingo de ressaca ou porque seu filho quebrou seu vaso de cerâmica chinesa de estimação (e caríssimo). 
Só não vale deixar que esquecer sua educação em casa se torne um hábito. Faça o possível para lembrar que os outros não têm culpa do seu mau humor e, por favor, peça desculpas quando voltar ao normal, se tiver a oportunidade. Se não estiver em condições de ficar sorrindo e ser simpático, pelo menos mantenha a educação. "Bom dia","obrigado" e "volte sempre" podem ser ditos mesmo se você estiver sério. 

segunda-feira, 2 de julho de 2012

escolhas e renúncias

No último sábado nós fomos a um casamento. Eu sempre gosto de prestar atenção na cerimônia dos casamentos e o capelão que realizou esse casamento disse duas coisas que eu gostei bastante: a primeira é que esperava que aquela cerimônia servisse como uma renovação para todos os presentes. Que os que já eram casados pudessem renovar seus votos junto com os noivos e que os não casados pudessem ter mais essa preparação, para quando seu momento chegasse, pois que ver aquele casal se unindo em matrimônio renovaria a esperança de todos no sagrado matrimônio. Uma espécie de reveillon de casamento. Sabe reveillon, quando você se enche de esperança e resoluções para que as coisas melhores na sua vida dali pra frente, e para fazer melhor a vida daqueles que ama? Tipo isso, só que no casamento. Achei fofo.
Mas a parte que mais gostei foi a das escolhas e renúncias. Não lembro das palavras exatas, mas resumindo, o que ele disse foi que "cada escolha que você faz, traz consigo renúncias que você deve fazer. Se você ama a escolha, mas não ama as renúncias, então essa escolha não é certa para você".
Pro caso de alguém não ter entendido, ele explicou: "se você escolhe se casar, por exemplo, mas não consegue conviver com a ideia de não te mais sua "vida de solteiro", então provavelmente não está fazendo a escolha certa ou, pelo menos, não está pronto para essa escolha."
As pessoas costumam dizer que o maior presente que Deus nos deu foi o livre arbítrio. Eu já cheguei a pensar que ele poderia ter dado a todos o bom senso (que não é necessariamente o senso comum, fique claro), em vez do livre arbítrio - o mundo talvez fosse melhor assim -, mas Ele devia saber o que estava fazendo. O importante é saber que isso significa que somos livres para escolher não só o que faremos, mas, principalmente, que consequências queremos assumir. Ou, como disse o capelão no casamento, do que estamos dispostos a abrir mão, se for necessário.
Sim, se for necessário. Eu não acho que casar ou assumir uma relação signifique que você não pode mais encontrar seus amigos, ter interesses diferentes, hobbies não compartilhados ou que o casal tenha que fazer tudo junto, grudado. Apenas acho que quando você assume uma relação, deve pensar no efeito que suas atitudes terão sobre o outro. Que os limites devem ser estabelecidos de comum acordo e respeitados.
A questão é: o mundo mudou para a maioria de nós. Na nossa sociedade, na nossa cultura, hoje, é comum ficar, beijar sem compromisso, ter alguns encontros. Se você não está disposto a abrir mão disso por quem quer que seja, então não abra. Simplesmente não assuma compromisso com ninguém. Ou assuma com alguém que aceite, sei lá, um relacionamento aberto. Tem gente muito bem resolvida com esse tipo de coisa.
Não é como no tempo das nossas avós, que as mocinhas só podiam beijar na boca com compromisso sério, autorizado pelo pai, que sexo só depois do casamento. O mundo está cheio de pessoas querendo (ou, pelo menos, topando) "nada sério", homens e mulheres, então porque impor isso a alguém que não o quer?
Eu fico extremamente irritada em estar em uma roda de amigos e ouvir os meninos contando do balão que deram nas suas namoradas, das estórias que inventam para enganá-las, dos telefones com dois chips, de números diferentes, dos amigos dando cobertura (não é que as mulheres não traiam, é que elas não saem contando isso por aí, acho. É imensamente mais comum ver o homem contando vantagem desse tipo de asneira). Não canso de perguntar por que diabos não terminam com a tal namorada e vão à vida de solteiro, livres, leves e soltos. Tão mais simples! E digno.
Seja honesto consigo e com os outros. Não quer namorar, não namore. Não quer casar, não case. Não quer ter filhos, diga isso antes da gravidez (e tome o cuidado de evitá-la. Depois que acontecer, não adianta dizer que não queria).

Quando você conhece um sujeito que te diz de cara "olha, não quero compromisso", cabe a você decidir se quer correr o risco de se envolver. Se der errado, não dá pra culpar o outro: ele te avisou, como o Tim Maia, naquela música (claro que isso só vale se o cara disser no início. Se esperar você se envolver e usar isso como desculpa pra pular fora ele é um cretino e ponto). Mas quando você envolve, assume um compromisso com o outro, chama de meu amor, apresenta como namorado(a), depois diz que vai dormir e parte pra balada, aí está sendo um tremendo imbecil. E sem necessidade.
Vai ter um monte de gente dizendo que homem é assim mesmo, que o lance é conquistar a mais difícil, que a menina que topa ficar sem compromisso é fácil, não tem a mesma graça, etc, etc, etc (engraçado que ninguém inventa uma desculpa para as mulheres, nessa hora). Bom, é aí que entra (se houver) o caráter, né? Em não colocar a sua "diversão" acima dos sentimentos dos outros.

Ok, você quer namorar, mas não quer deixar de sair com os amigos, de ter o seu espaço, de ter seus momentos com o que você curte e o outro não. Dou o maior apoio! Deixe isso sempre claro e diga a verdade. Mesmo porque, no fim das contas, você nem vai querer ficar com uma pessoa que tenta te aprisionar. Apenas lembre-se de que em uma relação existem as necessidades das duas pessoas - isso quer dizer que vai ter que rolar uma negociação, aí, em alguns momentos - e seja leal: dá, sim, pra sair com os amigos, beber, se divertir e não se agarrar com ninguém. Juro que dá! E se seus amigos são do tipo idiota e ficam "colocando pilha", opte por ignorá-los. Essa opção também é sua.
Lembre-se do Pequeno Príncipe e aquele negócio do "Tu te tornas responsável por aquilo que cativas". É batido, meio brega, até, mas é verdade.



domingo, 1 de julho de 2012

no elevador

Recentemente o condomínio instalou câmeras de segurança nos elevadores do meu prédio. Isso é uma prática comum, hoje em dia, e eu entendo que tudo pela nossa segurança e para evitar que algum ser do pântano danifique o patrimônio do prédio. Ainda assim, é um grande incômodo.
Quando se fala em instalar câmeras de segurança nas ruas o grande ponto contra é a falta de privacidade. Pessoas reclamam que terão suas vidas devassadas, que se sentirão desconfortáveis sendo observadas todo o tempo, como se estivessem sendo seguidas. Mas ninguém fala do elevador.
O elevador era, até pouco tempo atrás, um território neutro, a sua última chance antes de chegar na casa de quem você vai visitar ou de sair à rua. Uma câmera dentro do elevador é quase tão invasiva quanto seria uma câmera no banheiro da sua casa. A última chance de ver se a blusa não está embolada dentro da calça ou da saia e ajeitar; última chance de limpar o nariz, de espremer um cravo, de ajeitar o cabelo ou ver se o dente está sujo. Essas coisas que todo mundo faz, mas não na frente dos outros. Coisas que você deveria fazer... no banheiro. Sentiu o constrangimento? Você, dando uma última olhada no espelho para ter certeza de que está apresentável e uma camerazinha gravando tudo!
Mas o elevador vai além disso: é a sua última chance de ensaiar aquele olhar irresistível antes de chegar na festa, de comemorar uma boa notícia fazendo uma dancinha ridícula ("como se ninguém estivesse olhando") ou bufar, xingar e socar o ar, para extravasar. Mais: o elevador é o lugar perfeito para agarrar seu namorado antes de encontrar a família ou os amigos.
Nem adianta negar: você, com certeza, já protagonizou um dos exemplos acima. Provavelmente mais de um.
Por conta dessa sensação de privacidade e conforto que o elevador oferece, já era chato o suficiente quando o elevador parava no meio do caminho e entrava um vizinho. O constrangimento já era suficiente. Quem já estava, incomodado por ter seu momento interrompido; quem chegava, por ter seu momento frustrado. Todo mundo já abriu a porta do elevador e pensou: "droga! Tem gente".
Da mesma forma, todo mundo já se sentiu aliviado por abrir a porta do elevador e descobrir que não tinha ninguém, que o elevador era só seu, sem ninguém para atrapalhar.
Mas agora, meu amigo, agora a coisa tá feia: você tem que se policiar mesmo quando está sozinho, porque o porteiro ou segurança pode estar observando e, ainda que não esteja, aquilo vai ficar gravado e arquivado por não sei quanto tempo, para o caso de algum jogador de futebol resolver dizer que foi assaltado pra justificar o atraso ao treino ou de uma mulher picar o marido e sair com os pedacinhos na mala. 
Eu, por exemplo, tenho mania de falar sozinha. Eu falo sozinha sempre que estou sozinha (dã!). Às vezes tenho que me concentrar para não falar sozinha em público também. Para meu socorro, hoje existem essas tecnologias que permitem, por exemplo, ligar para alguém em viva voz, no carro. Você fala no telefone sem estar segurando o telefone, como se a pessoa estivesse no banco do carona. Se eu comprar um carro com um negócio desses, com sorte, as pessoas vão achar que eu estou falando no telefone e não com os meus próprios botões. O mesmo não vai acontecer com o porteiro, olhando a câmera do elevador enquanto eu converso animadamente comigo mesma ao sair de casa. Olha o ridículo!
E aquelas fotos bregas de rede social, que as pessoas tiram apontando a câmera pro espelho do elevador, ainda por cima, agora terão making off.