domingo, 23 de setembro de 2012

A segunda é sempre melhor

Está eternizado no dito popular e ninguém discorda: a primeira vez é sempre a mais difícil. Se essa é a sua primeira vez em seja lá o que for, a realidade é assustadora, como se você começasse um jogo pelo nível 10 de dificuldade. Parece, não que é mais difícil justamente por ser a primeira vez, mas que é mais difícil além de ser a primeira vez. A sensação é de "puxa, nem sei se estou 100% preparado e já tenho que começar pelo mais complicado! Será que não dá pra deixar alguém com mais experiência fazer isso pela primeira vez e me deixar fazer uma terceira ou segunda, pelo menos?" Pois é, não dá. Você tem que fazer pela primeira vez primeiro.
A boa notícia é que, coroando seus esforços, vem a segunda vez. Ah! a segunda vez... essa sim. Não tem a pressão da primeira, não é mais vagar pelo completamente desconhecido, mas ainda tem as alegrias de se descobrir os detalhes e as nuances de uma situação nova na sua vida. Depois disso, na terceira, quarta, quinta vez... aí você já sabe como tudo funciona e a coisa pode até começar a perder o encantamento, entrar no automático, virar rotina. A segunda vez é a mais perfeita. Observe que é na segunda vez que você assiste a um filme que você descobre todos os detalhes que passaram despercebidos da primeira vez porque você estava ocupado demais prestando atenção na trama.
Lembre-se do seu primeiro beijo, por exemplo. Certamente não foi o melhor da sua vida. Pode até ter sido bom e você pode até considerá-lo o mais especial (não é o meu caso, particularmente), mas o melhor, com certeza, não foi! O segundo, com certeza, foi melhor. Muito melhor. E é bem possível que outros ainda melhores tenham vindo depois, talvez outros segundos.
Sim, porque essa é a parte legal da estória: a primeira vez (e a segunda) vale para tudo e para tudo dentro desse tudo. Ficou confuso? Entenda, o primeiro beijo em cada pessoa que você beijar será um primeiro beijo. Não tão primeiro quanto o primeiro, em que você não tinha experiência nenhuma, mas o primeiro com aquela pessoa. Quer dizer, você pode já ter beijado 100 outras pessoas na sua vida, mas aquela na sua frente nesse momento, é a primeira vez. Você pode estar completamente apaixonado e ela também, mas ainda não sabe como vai ser, se o beijo vai "encaixar" ou não, se vai ter um segundo ou se vai ser decepção total.
Mas aí, tudo dá certo e vem o segundo. No segundo, é só partir pro abraço!
Quer outro exemplo: de pouco tempo pra cá, o SENAC vem me honrando com a oportunidade de facilitar - como se diz hoje em dia - alguns módulos de seus cursos relacionados à Hospitalidade (hotelaria, turismo, eventos, gastronomia,...). Falando diretamente: virei professora. Eu. Professora.
Eu, que por muito tempo vi minhas provas dissertativas da faculdade voltarem corrigidas com um "muito sucinto" escrito pelo professor no final de cada resposta (eu e a Manu). Eu devia ser palestrante, não professora. Palestrante é que pode falar tudo de uma vez, sem deixar nada para o dia seguinte. Professor tem que desenvolver os assuntos. 
Não, mas eu posso fazer isso. Eu aprendo, eu pego o jeito. Basta que eu sobreviva à primeira vez... E lá fui eu para Duque de Caxias (também pela primeira vez) descobrir minha vocação para o ensino.
No primeiro dia de aula, me vi três ou quatro vezes envolvida no seguinte diálogo:
- É a primeira vez que você dá aula aqui no SENAC?
- É a primeira vez que eu dou aulas na VIDA!
- Nossa, sério? Nem fala isso pros alunos.
Eu sou extremamente tímida com minhas relações pessoais, mas nunca tive problemas para falar em público (apresentar trabalhos, dar recados, esse tipo de coisa). Não gaguejei nem nada, entrei na sala e comecei a falar sobre o módulo, a apostila, o assunto da primeira aula. Cerca de dez minutos depois, me dei conta de que não tinha me apresentado nem pedido à turma que se apresentasse. Parei o que estava falando, fiz as devidas apresentações e voltei pro assunto. Quatro horas falando sem parar. No fim da aula, vi que já tinha passado da metade da apostila. Pânico total! Era um módulo pequeno, três dias de aula, apenas. Ainda assim, fiquei lá me perguntando sobre o que falaria nas duas aulas seguintes e em como avaliaria a turma (não, eu não tinha pensado nisso, ainda). Terminei a apostila, revisei, re-revisei. No fim, apesar dos tropeços, deu tudo certo, eu acho. Ao menos não recebi reclamações, e ainda me convidaram para facilitar o módulo novamente. Da segunda vez, eu já tinha uma ideia de onde me demorar mais e onde passar mais depressa, e programei melhor as aulas e avaliações para não esgotar o assunto de uma vez.
Bingo! É claro que ainda há muito que pode ser melhorado, mas as coisas já estão com uma direção definida a ser seguida.
Acontece que, então, me chamaram para facilitar um outro módulo. Lembra do que eu falei sobre o beijo? Eu consegui fazer uma apresentação bem melhor no primeiro dia, claro, conversar mais com a turma antes de começar a "matéria", saber mais ou menos o perfil de quem estava ali e que expectativas tinham. Ainda assim, a linguaruda aqui falou demais logo na primeira aula e teve que começar logo a pensar em como não falar de tudo de uma vez nas aulas seguintes (esse módulo era bem maior que o primeiro, doze dias de aula, com quatro horas cada). Comecei a pesquisar mais os tópicos a serem tratados, vídeos, fotos, pensar em dinâmicas, etc, etc, etc. Como já tinha alguma experiência, as coisas estão se acertando já na primeira vez, mas devo admitir que já espero ansiosa pela segunda vez.

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