domingo, 1 de julho de 2012

no elevador

Recentemente o condomínio instalou câmeras de segurança nos elevadores do meu prédio. Isso é uma prática comum, hoje em dia, e eu entendo que tudo pela nossa segurança e para evitar que algum ser do pântano danifique o patrimônio do prédio. Ainda assim, é um grande incômodo.
Quando se fala em instalar câmeras de segurança nas ruas o grande ponto contra é a falta de privacidade. Pessoas reclamam que terão suas vidas devassadas, que se sentirão desconfortáveis sendo observadas todo o tempo, como se estivessem sendo seguidas. Mas ninguém fala do elevador.
O elevador era, até pouco tempo atrás, um território neutro, a sua última chance antes de chegar na casa de quem você vai visitar ou de sair à rua. Uma câmera dentro do elevador é quase tão invasiva quanto seria uma câmera no banheiro da sua casa. A última chance de ver se a blusa não está embolada dentro da calça ou da saia e ajeitar; última chance de limpar o nariz, de espremer um cravo, de ajeitar o cabelo ou ver se o dente está sujo. Essas coisas que todo mundo faz, mas não na frente dos outros. Coisas que você deveria fazer... no banheiro. Sentiu o constrangimento? Você, dando uma última olhada no espelho para ter certeza de que está apresentável e uma camerazinha gravando tudo!
Mas o elevador vai além disso: é a sua última chance de ensaiar aquele olhar irresistível antes de chegar na festa, de comemorar uma boa notícia fazendo uma dancinha ridícula ("como se ninguém estivesse olhando") ou bufar, xingar e socar o ar, para extravasar. Mais: o elevador é o lugar perfeito para agarrar seu namorado antes de encontrar a família ou os amigos.
Nem adianta negar: você, com certeza, já protagonizou um dos exemplos acima. Provavelmente mais de um.
Por conta dessa sensação de privacidade e conforto que o elevador oferece, já era chato o suficiente quando o elevador parava no meio do caminho e entrava um vizinho. O constrangimento já era suficiente. Quem já estava, incomodado por ter seu momento interrompido; quem chegava, por ter seu momento frustrado. Todo mundo já abriu a porta do elevador e pensou: "droga! Tem gente".
Da mesma forma, todo mundo já se sentiu aliviado por abrir a porta do elevador e descobrir que não tinha ninguém, que o elevador era só seu, sem ninguém para atrapalhar.
Mas agora, meu amigo, agora a coisa tá feia: você tem que se policiar mesmo quando está sozinho, porque o porteiro ou segurança pode estar observando e, ainda que não esteja, aquilo vai ficar gravado e arquivado por não sei quanto tempo, para o caso de algum jogador de futebol resolver dizer que foi assaltado pra justificar o atraso ao treino ou de uma mulher picar o marido e sair com os pedacinhos na mala. 
Eu, por exemplo, tenho mania de falar sozinha. Eu falo sozinha sempre que estou sozinha (dã!). Às vezes tenho que me concentrar para não falar sozinha em público também. Para meu socorro, hoje existem essas tecnologias que permitem, por exemplo, ligar para alguém em viva voz, no carro. Você fala no telefone sem estar segurando o telefone, como se a pessoa estivesse no banco do carona. Se eu comprar um carro com um negócio desses, com sorte, as pessoas vão achar que eu estou falando no telefone e não com os meus próprios botões. O mesmo não vai acontecer com o porteiro, olhando a câmera do elevador enquanto eu converso animadamente comigo mesma ao sair de casa. Olha o ridículo!
E aquelas fotos bregas de rede social, que as pessoas tiram apontando a câmera pro espelho do elevador, ainda por cima, agora terão making off.  

3 comentários:

  1. não sabia que ainda tinha elevador sem camera! O lugar neutro aqui do predio é o corredor dos andares, mas vc corre o risco de um vizinho sair e te pegar no seu momento rss

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    1. corredores e escadas de incêndio, se você estiver afim de um exercício em vez de usar os elevadores.

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  2. E viva o Big Brother! :-(

    Bom, eu não me intimido... Continuo falando sozinha no elevador, com direito a gesticular e encenar - com ou sem câmera!

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