sexta-feira, 22 de junho de 2012

falta educação

Quando estava em Copenhagen, visitando uma amiga dinamarquesa, fomos a uma festa. Isso significava sair do "subúrbio" onde ela morava de bicicleta até a estação de trem e seguir para o centro da capital. Voltamos às duas da manhã e não havia uma única alma na rua enquanto pedalávamos de volta pra casa. Nem pedestre, nem ciclista, nem carro. Ainda assim, quando os sinais de trânsito estavam fechados, nós parávamos. Acostumada à nossa "rotina de trânsito", eu perguntei porque estávamos parando se não tinha ninguém na rua: "porque o sinal está fechado", ela respondeu, sem pestanejar.
De visita a uma outra amiga - esta, brasileira - na Holanda, numa cidadezinha que quase não tinha sinais de trânsito, mas uma ciclovia quase da mesma largura da rua, levei uma baita bronca de um motorista por esperar sua passagem para atravessar: é que, tendo me visto na beira da faixa de pedestres, ele reduzira a velocidade do carro para me dar passagem e como não atravessei, teve que parar o carro ao alcançar a faixa de pedestres. É que foi assim que meu pai me ensinou a atravessar a rua: olhe para os dois lados mesmo que seja mão única e espere os carros pararem, para ter certeza de que não será atropelada. ´
É assim que acontece por aqui, mas na Holanda... na Dinamarca... por lá as pessoas respeitam as regras.
O brasileiro não gosta de regras. Acha que ela deve existir para os outros, talvez, mas no que diz respeito a si próprio as regras servem só para aporrinhar. O motorista alcoolizado acha que lei seca serve para tirar dinheiro, que os outros podem até ficar com reflexos prejudicados com meia dúzia de latinhas, mas ele não. Logo, a lei seca não deveria servir pra ele. Quando você é parado na lei seca e não é o motorista, tem a chance de ficar observando a quantidade de táxis que passam com sujeitos embriagados gritando e xingando os agentes de trânsito, se achando muito espertos por não terem sido parados.
Quando eu trabalhava na recepção do hotel, vi um milhão de vezes as famílias chegarem sem os documentos dos menores e, ante a negativa do recepcionista (eu, inclusive) em fazer o check-in sem a comprovação de paternidade, armarem verdadeiros barracos no lobby do hotel. Não adianta explicar que é lei (não adianta nem mostrar a lei, preto n branco), que andar com a documentação (identidade, passaporte ou certidão de nascimento) do menor é obrigatório mesmo em viagens de carro, que é para a segurança da família (significa que se alguém roubar seu filho, não vai poder se hospedar em hotel algum), que o hotel pode ser multado e até fechado se bater fiscalização e  houver menores hospedados sem a cópia dos documentos no arquivo. Na hora em que a lei vai contra os interesses, pais e mães zelosos viram bicho! "Olha aqui, minha filha, eu entendo a posição do hotel e acho louvável que vocês levem isso a sério porque é claro que nós não queremos que alguém sequestre nossos filhos e saia viajando por aí, mas aqui, dá pra ver que ele é meu filho, olha só. É a minha cara. Fala pra ele, fulaninho, o que eu sou sua?" "Isso é um absurdo! Quer dizer que agora eu tenho que provar que meu filho é meu filho?" E, por último, mas não menos revoltante: "Chama seu gerente que eu quero falar com ele. Imagina só se eu não vou entrar nesse hotel"
Esse "chama o gerente" significa uma única coisa: você não é ninguém aqui e eu tenho certeza de que seu superior vai saber reconhecer minha importância nesse hotel. É o velho "você sabe com quem está falando?"
Uma vez, um recepcionista de outro hotel da rede ligou para a recepção para informar que o pai se hospedaria no hotel, pedindo que arrumássemos um bom apartamento e "amenities", já que o homem era desembargador. Teria sido o suficiente ele me dizer que o cara era pai dele. Por coleguismo, ele teria recebido o melhor apartamento possível e o tratamento especial que oferecíamos a todos os nossos clientes de um hotel cinco estrelas. Mas não, o menino tinha que dizer que o pai dele era "importante".
O "importante" é aquele a quem as regras não se aplicam. Aquele a quem se faz concessões. Aquele que tem atendimento preferencial.
A maioria dos brasileiros reclama que os políticos são safados, que os policiais são corruptos, que o funcionário público não trabalha, mas a verdade é que 95% dos brasileiros, chutando baixo, faria exatamente a mesma coisa se tivesse a oportunidade!
Quer dizer: 95% dos brasileiros adoraria ter uma posição que lhe permitisse burlar as regras. A maioria adoraria um cargo público que fosse "um emprego e não um trabalho" e colocaria tantos de seus parentes e amigos mais próximos na jogada quanto lhe fosse possível. A maioria cederia ao assédio de uma empreiteira para fraudar uma licitação se fosse por uma boa comissão e um sem número de pessoas tentaria manter um benefício a que não tivesse direito, assim, na moita, dando uma de joão sem braço. 
Leis, meu amigo, nada mais são que regras. E o nosso povo, como já foi dito, não gosta de seguir regras.
Aí, aquela coisa do "cada povo tem os governantes que merece" começa a fazer sentido.
Isso é coisa de gente mal educada: o sujeito que joga o lixo no chão porque não é ele que vai limpar, que pára na vaga de deficiente, fura fila, fuma em lugar fechado e consulta o twitter para saber onde está a lei seca, para desviar o caminho e poder burlar a lei sossegado (aliás, postar essas informações também devia dar multa) é o mesmo ser do pântano que trata mal o recepcionista, que chama o gerente, e liga pra dizer que quer tratamento especial porque é importante. Tudo falta de educação. O mau caráter tem muito de mal educado. O desonesto tem muito de mal educado. O nosso país, de uma forma geral, é mal educado.  Não é a educação de escola, a instrução, não. Disso também somos carentes, mas estou falando daquela educação de casa, de "berço". Aquela que aprendemos observando os exemplos à nossa volta: pai, mãe, familiares. A educação do nosso país é distorcida. Por aqui, cada um cuida do seu e o resto que se exploda.
Uma vez, um professor colocou a seguinte situação: você está em uma rua cheia, no horário de pico, e uma outra rua desemboca nela, os motoristas de lá tentando entrar, os de cá, querendo prosseguir. A maioria dos motoristas vai tentar impedir a passagem do que quer entrar colocando o seu carro no caminho, de forma a garantir sua passagem antes do outro. Mas tudo muda se por acaso do destino o vidro do outro carro baixar e ele descobrir que o motorista é seu amigo. Aí ele cede a passagem.
Por aqui, educação é guardada para quem é "de casa" ou para quem interessa. O sujeito trata o chefe a pão-de-ló e faz o subalterno comer o pão que o diabo amassou. Trata bem a família da namorada, mas destrata o porteiro do prédio.
Eu achei um pouco de exagero da minha amiga parar num sinal em que não havia ninguém. Na situação, acho que poderia ter havido uma certa flexibilidade. Mas fico feliz que a educação dela não seja inflexível. Que a educação do motorista holandês seja inflexível. A falta de educação dos meus concidadãos é um dos maiores motivos da minha vontade desesperadora de partir, de mala e cuia, pra Suécia.

Um comentário:

  1. Ju, acho que ja esta ficando chato concordar contigo rssssssssssss
    Eu ouso ate dizer que gosto muito do Brasil, mas não do povo. Essa coisa de "jeitinho brasileiro" é pessimo! Nada funciona, todo mundo é ladrão é justamente por causa disso. As coisas só são um absurdo quando é você que fica prejudicado, mas se você usufruir disso então tá tudo certo, né? Tambem busco um lugar onde haja educação, respeito e nada de jeitinho brasileiro. Seria um sonho!! (L)

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