sábado, 16 de junho de 2012

o homem, a mulher, os filhos e as escovas de dentes

Eu tenho, desde pequena, pânico de ver as pessoas escovando os dentes. Me embrulha o estômago, dá "trimilique", começo a suar frio, dou piti. É sério. Quem me conhece sabe e até acha graça, mas é sério.
Quando as pessoas vêm na minha casa como hóspedes, são avisadas de que existem apenas duas regras na casa e a primeira e mais importante delas é que é proibido escovar os dentes de porta aberta, andar pela casa escovando os dente e, principalmente, me dirigir a palavra enquanto faz isso. A segunda é que é proibido fumar, mas essa não chega a causar estranheza a ninguém. Não me lembro desde quando isso acontece ou o que gerou esse comportamento, mas o fato é que fecho os olhos e tapo os ouvidos até quando passa alguma cena na TV.
E também não escovo os dentes na frente de ninguém. Pra mim, a coisa mais dramática que existe é banheiro coletivo. No trabalho, sempre almoço o mais tarde possível e espero que todos tenham ido ao banheiro resolver sua vida. Depois vou, correndo, torcendo para ninguém aparecer. É tenso.
Pra mim, escovar os dentes é como qualquer outra coisa que se faz no banheiro; se você não anda pela casa se ensaboando, não faz xixi na sala, não tem porque escovar os dentes por aí também. Nos três casos, não custa entrar no banheiro, fechar a porta, fazer o que tem que fazer e sair.
Minha sorte nesse mundo é que meu namorado lindo não tem problemas em seguir esse roteiro, Mesmo assim, mantenho minhas coisas separadas (aliás, normalmente usamos cada um um banheiro). Cada um com a sua gaveta, cada um com a sua pasta de dentes. É que o tubo da pasta amassado pelo meio ou a gaveta molhada me causam a mesma aflição. Se eu puder nem encostar na escova de dentes de outras pessoas, tanto melhor. A pia toda molhada (tem gente que parece que toma banho na pia, eu não entendo essa "molhação" toda!) me dá vontade de matar um!
Desde cedo eu deixo claro: posso casar, juntar, amigar, juntar os trapinhos, me amancebar, até, mas juntar as escovas de dentes: jamais!
No primeiro post, eu comentei que "naoescoveosdentesnaminhafrente" era uma hipotética segunda opção de nome para este blog e teve gente dizendo que esse tema merecia um post também, mas nem era disso que eu queria falar, aqui, hoje. O que eu queria falar era da importância que não damos e que eu acho que deveríamos dar aos pais dos nossos filhos.
Muitas vezes, quando conto essa minha, digamos, peculiaridade, as pessoas (normalmente mulheres) me perguntam: "mas e aí, como você vai ensinar seus filhos a escovar os dentes?". Minha resposta é muito simples: em primeiro lugar, até onde eu sei, sem nunca ter experimentado, o instinto materno supera tudo. Em segundo lugar - mas não menos importante - meus filhos (se tudo correr como planejado) terão um pai e esse pai pode, perfeitamente, ficar com essa tarefa."
Essa segunda parte sempre gera caras de dúvida, deboche até e comentários do tipo: mas homem não faz essas coisas, quem cuida disso é sempre a mãe. Homem não sabe cuidar desses detalhes.
O que passa pela minha cabeça nesse momento eu acho que não fica bem escrever aqui, mas me incomoda profundamente essa incapacitação que nós (isso mesmo, nós, mulheres) promovemos nos nossos homens.
Sério que é tão difícil assim ensinar uma criança a escovar os dentes, dar um banho, trocar uma fralda?
Por que uma mulher cansada pode fazer isso e os homens "não conseguem"?
A culpa é nossa, sim, e, por incrível que pareça, é uma das poucas culpas (senão a única) que eu não vejo as mulheres sentirem. Existe a culpa por trabalhar e não passar mais tempo com os filhos, por não malhar, por comer doces, por não dar mais atenção ao casamento, mas não vejo ninguém reclamar de culpa por monopolizar a responsabilidade pela criação e educação dos filhos.
Nessas semanas em que muito falou de criação com apego e parto domiciliar, uma amiga postou um depoimento inspirador em vários sentidos. O que mais me chamou a atenção, no entanto, foi seguinte trecho:

"Importante destacar que tenho um marido super participativo, que nunca "me ajudou" com coisa alguma, porque cuidar de Emilia nunca foi tarefa só minha. Ele sempre esteve ativamente envolvido em todas as decisões, todo o cuidado, passou noites em claro como eu, trocou fraldas desde sempre, deu banho desde sempre, colocou pra dormir desde sempre, e me apoiou e suportou quando eu estive fraca e cansada."


Fala pra mim: esse não é o sonho de todas nós, mulheres? Não é isso de que muitas reclamam? Por que diabos, então, nós não incentivamos e até cobramos essa atitude de nossos parceiros? Por que não damos apoio para que eles façam as coisas, por que queremos que nossos filhos sejam só nossos (e, talvez, das avós) e não dos pais deles? Por que o homem tem a desculpa de chegar cansado do trabalho para não ajudar num tempo em que nós também chegamos cansadas do trabalho? Por que tem a desculpa de ser homem? Por que suas únicas responsabilidades perante a sociedade são registrar o rebento e dar suporte material? É injusto!
Conheço um casal extremamente criticado pela família porque o homem passava mais tempo cuidando dos filhos que a mulher. Diziam que era um absurdo que ele buscasse as crianças na escola, que desse o almoço, enquanto ela somente trabalhava. Se essa opinião, por si só, já não me parecesse extremamente preconceituosa, seguem alguns dados: ele, funcionário público, morava do lado do trabalho e tinha total disponibilidade de fazer isso no seu horário de almoço, além de adorar passar mais tempo com os filhos. Ela, além de trabalhar longe, ganhava muito mais que ele em uma grande multinacional.
A divisão das tarefas tem sempre que estar mais pesada pro lado da mulher. É ela que tem que dar conta de trabalho, casa e cria, nunca o homem.
Isso, senhoras, é, sim, culpa nossa! Da forma como tratamos nossos companheiros e como criamos nossos meninos. Precisamos parar de querer provar o tempo todo que somos melhores, mais fortes, mais capazes e deixar que os pais também criem os filhos. Afinal, na hora de fazer, estavam os dois lá, né? Guardem suas forças para quando elas forem realmente necessárias.
Nós, aqui em casa, não temos previsão de encomendar um herdeiro, ainda (mais por falta de estrutura que de vontade), mas já está decidido quem ensinará os pequenos a escovarem seus dentes.


2 comentários:

  1. Ju, um detalhe que nem cheguei a escrever nesse trecho - escovar os dentes de Emilia é tarefa principal do papai :) Eu só escovo os dentes dela quando ele não está em casa. Do contrário é com ele :) E não tem nada a ver com eu ter problema com escova de dentes, rs! Simplesmente aconteceu dele sempre tomar a iniciativa nessa área... :)

    Beijossss

    ResponderExcluir
  2. Concordo Ju!!!! Nós mimamos muito os homens e depois reclamamos que são incapazes de fazerem as coisas. Não faz sentido! Já que a ideia é que os homens não ajudam e que as mulheres cuidam de tudo era só começar uma mobilização para as mães educarem seu meninos de forma que eles aprendessem a participar das tarefas do lar. Sou super a favor de uma criação igual. Se a menina faz, o menino tambem tem que fazer. Se o menino pode, a menina tambem pode! O mundo ja seria melhor com esse tanto.

    ResponderExcluir